sexta-feira, 8 de outubro de 2010

SEXUALIDADE ENTRE DEFICIENTES


      O assunto sexo ainda é tabu. E tesão ainda é julgado um nome feio para uma sociedade conservadora entre pessoas consideradas “normais”.   Imagine como são avaliadas as relações amorosas e sexuais entre os portadores de deficiência física? Aquele que perdeu as faculdades motoras, que ficou mutilado por causa de acidentes ou por doenças, poderá sofrer uma mutilação emocional, se seus desejos sexuais e amorosos não forem aceitos pelos familiares, em primeiro lugar, e pela sociedade, de um modo geral. Ele já sofre com sua autocrítica e, quando supera seus próprios preconceitos e descobre o amor correspondido, ganha auto-estima e encontra força psicológica para realizar seus desejos e acreditar na sua capacidade de conviver com a sua diferença. A sexualidade de um modo geral não se limita apenas aos órgãos genitais, à penetração e ao orgasmo.
     Existem muitas maneiras de curtir o prazer numa troca de olhares, num roçar de mãos, num abraço, num beijo, num ficar pertinho, abraçadinhos. E, para quem não  sabe,  muitos deles estão aptos ao ato sexual.( e Como )
     O importante é que o deficiente físico se liberte da vigilância de seus amados pais e protetores. Que descubram suas potencialidades e assumam suas próprias vidas como puderem. Transcrevo o depoimento admirável que recebi de uma “Velha Amiga”.
 
     Gostaria de sugerir que abordasse a sexualidade das mulheres com seqüelas de poliomielite (como, infelizmente, é o meu caso, desde os 7 meses e 15 dias), visto que eu mesma acho interessante que, tendo sido atingida em toda a área inferior e na coluna vertebral, não fui atingida em nada em meu aparelho feminino e muito menos em minha sensibilidade genital, nem tampouco na minha sexualidade, permitindo-me levar a vida normalmente nesse campo. Isto me leva a dizer que a febre do desejo é incrivelmente superior à febre ingrata da poliomielite, não permitindo que ela me roubasse a "essência feminina", com a qual Deus me brindou ao fazer com que eu nascesse Mulher.
     Minha sexualidade aflorou muito cedo, ainda na pré-adolescência, por volta dos 11 anos. A masturbação era meu único e solitário meio de exercê-la, pois eu não tinha contato com ninguém do sexo oposto até os meus 24 anos, quando passei a freqüentar um grupo de Deficientes Físicos, e a usar aparelho ortopédico nas pernas e muletas axilares, o que me permitia sair de casa. Foi assim que conheci meu primeiro namorado e foi com ele o meu primeiro beijo. Mas minha vida sexual só começou mesmo aos 30 anos, visto não estar morando mais na casa de minha mãe, pessoa muito rígida na conduta das filhas. Eu não tinha a mínima intenção de magoá-la ou desobedecer-lhe. Sempre pensei "Casa dos outros, regras dos outros".
     Fazia um ano que estava fora da casa dela, pagando pensão na casa de amigas, quando numa manhã de domingo o dono de uma lanchonete, a qual freqüentava, sentou-se à mesa comigo e, a partir daí, começou nosso romance, que durou 4 anos. Ele foi meu primeiro homem de fato. Antes dele, foram só beijos e algumas carícias um pouco mais ousadas. Meu segundo parceiro foi um amigo de longa data (14 anos de amizade), que sempre me cantava, declaradamente, e eu dizia não, por ainda ser virgem.   Como não era mais, estava sozinha e sempre nutri muita atração e declarada paixão por ele, nos entregamos a momentos de intenso prazer numa noite de réveillon. E, embora ainda tenha amizade com ele até hoje, só mantivemos quatro relações sexuais. Meu terceiro parceiro era deficiente físico como eu e, apesar de ser solteiro (coisa que os outros não eram), foi o pior dos meus relacionamentos em termos de sentimentos, pois ele era virgem e 14 anos mais novo que eu. Ele era inseguro e me ofendia muito por eu não ser a virgenzinha que ele sonhara.
     Ele me deu muito carinho e prazer, mas quando terminou comigo, rendeu-me uma profunda depressão que quase me levou à morte. Mas ninguém se compara ao meu atual parceiro, um moreno, deliciosamente atraído por mim, e que só de me ver já fica todo aceso e a fim de... Temos a mesma idade. Apesar de ele dizer que sente só tesão, pra mim já é uma grande coisa!
     Sou uma cinqüentona (tenho 50 anos), vivo numa cadeira de rodas sem exibir os gingados de um caminhar e nem uma bunda bem-feita. Se consigo deixar um homem no estado de excitação em que ele fica, é sinal de que meu sex appeal é muito grande e eficiente, não é verdade? Sempre nos vemos e mantemos relações intensas, geralmente a cada 15 ou 20 dias, às vezes a cada oito dias, dependendo dos compromissos dele, que só tem um defeitinho: também é casado.
           Grata pela atenção e parabéns.


                        JOEL TRANCOSO CLAUDINO

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